domingo, 27 de março de 2011

Sempre ouvi a seguinte queixa dos homens bonzinhos:

- Estou cansado de ser bonzinho, só me ferro! Mulher gosta é de homem canalha!
Então o bonzinho, cansado de dar murro em ponta de faca, resolve que vai pegar todas. E pega mesmo. Depois volta, todo prosa:
- Tô pegando geral. Ninguém me segura. Não disse? Não disse que mulher gosta é de homem canalha?
Sem querer tirar o doce da boca dos bonzinhos loucos para deixar de ser bonzinhos, há sérias controvérsias. E o assunto é bonzão.
Primeiro, que nunca vi homem bonzinho querer mulher boazinha. Aliás, ninguém quer mulher boazinha. Querem logo a boazuda. Cada qual com seu critério; o problema não é esse. Existe a boazuda séria, digna. E existe a boazinha também digna. De Oscar de melhor atriz.
O problema é justamente a falta de critério, que parece assolar uma generosa fatia do universo masculino - a mesma fatia que, depois, vai se queixar ao papa. E vem com esta conversa: mulher gosta é de canalha.
Eu diria que o bonzinho queixoso é, sim, uma vítima. Da própria preguiça. Difícil ouvir de um homem algo próximo a isto:
- Só me ferro! Estou cansado de não saber selecionar as pessoas com quem me relaciono. Como tenho um ótimo caráter, deveria saber escolher mulheres que estivessem à minha altura!
Não. Esse papo de escolher parceiro parece ser coisa de mulher - ou pior, de mulherzinha. O bonzinho vai à festa, e olhe lá. Toma umas e outras para ter coragem de abordar a boazuda. Mira nela. Acha outra boazuda parecida, mira também (para aumentar as chances). Atira. Atira outra vez. Fecha os olhos. Abre os olhos. E olha pelo chão para ver quem caiu.
Esse tipo de seleção - poderia chamar de "critério do estilingue", mas vou poupá-los (ao menos) dessa canalhice literária; para isso há vasto material especializado - costuma ser muito eficiente em curto prazo. A rebordosa é que são elas: as boazudas mal escolhidas.
Mas o bonzinho, o nome já diz, não vai desistir assim. Já está meio encantado pelo rebolado da moça mesmo, que se há de fazer? Se ela é um pouco esquisita, se sorri de canto em horas inoportunas, se esboça um trejeito meio sádico - quem sou eu para julgar?
Aquilo não cheira nada bem, mas o bonzinho pega a boazuda pela mão e apresenta à família. Enxaqueca geral. Todo mundo sabe onde essa encrenca vai dar. Em encrenca. E ele, no fundo, também sabe. Mas disfarça muito bem.
Chega o fatídico momento, então, em que o sujeito bom caráter é surpreendido (entre aspas) por incômoda-protuberância-crânio-frontal (entre aspas, agora literalmente). A boazuda não só deitou e rolou, como também se bandeou para o gramado do vizinho - que, segundo consta, não era lá tão bonzinho.
Daí o sujeito conclui não que não sabe escolher as boazudas, mas que mulher gosta é de homem canalha. E, munido dessa tese científica tão precisa quanto a mira do seu estilingue - com todo o respeito -, decide deixar de ser gente boa no ato.
Ganha a humanidade, com isso, muito pouco. Jamais saberemos, por exemplo, que fim levaria o bonzinho, caso resolvesse seguir bonzinho, deixasse de preguiça e fosse buscar uma boa - talvez menos "uda", mas ainda boa - mulher. E o casal boazuda-e-canalha, afinal, tem futuro se algum deles resolver ser fiel?
Ou vira bonzinho, e aí perde o encanto?
E ficamos, ainda, diante de mais um dilema. Se "mulher gosta é de homem canalha" (homem diz), e "homem não presta, é tudo canalha" (mulher diz) - de duas, uma. Ou essa confusão não terá fim, e estaremos fadados a desencontros amorosos crônicos até o fim de nossos solitários dias…
Ou a gente se ama de verdade, e eu é que estou aqui perdendo tempo discutindo a relação.

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